Todo ele exala segurança enquanto fuma o seu Marlboro. É forte, decidido, sabe o que quer e o que não quer. As mãos grandes seguram firmemente o cigarro, já quase no fim. Muito ele fuma. Já imensas vezes lhe dei a entender que não gostava nada desse seu vício, mas ele não me ligou nenhuma. Cada vez fuma mais. Fuma quando está nervoso, fuma quando está chateado, fuma quando as coisas não lhe correm bem, fuma quando não tem mais nada que fazer. Fuma o primeiro cigarro da manhã debruçado sobre a janela da cozinha e fuma o último cigarro da noite sentado na cama junto à cabeceira. Não gosto quando ele fuma e se aproxima de mim, e o primeiro cheiro que sinto é o fumo entranhado nas roupas, no cabelo, por todo o lado, apagando o seu aroma natural. Estou a seu lado deitada no sofá, daquela sala que já se tornou tão familiar, mais familiar até que a minha própria sala da minha própria casa. Inclina-se para alcançar o cinzeiro pousado sobre a mesa e apaga o cigarro. Depois vira-se para mim, olha-me nos olhos e tenta roubar-me um beijo. Desvio a cara. Ele já sabe como as coisas funcionam. Levanta-se muito lentamente sob o meu olhar atento e vai em direcção à casa de banho. Chamo-lhe o ritual das 16:10. Ele lava a cara, as mãos, os dentes. Depois dirige-se para o quarto e troca de roupa. E volta para junto de mim, encontrando-me sempre a fazer zapping. Tira-me o comando da mão e deita-se ao meu lado no sofá. Faz-me festas no cabelo e percorre o meu corpo com as suas mãos inquietas. Rio-me. "Não te estou a fazer cócegas" diz-me ele. "Mas, tu sabes, eu tenho sempre cócegas" respondo. E é então que me beija. Eram estes os meus beijos preferidos. Minutos depois e ele volta a fixar o meu olhar. Estaria a mentir se dissesse que não gosto quando olha para mim dessa forma, mas sinto que nada posso fazer senão deixar-me levar por ele. Ele sabe o que quer e eu sei o que ele quer. Leva-me para o quarto, ao colo, com todo o cuidado, como se eu fosse uma frágil boneca de porcelana. Nesse momento tenho a confirmação de que somos um só. E no final ficamos os dois sentados à beira da cama, um ao lado do outro, eu a olhar para ele, ele a olhar para mim, e não dizemos uma palavra, apesar de conseguir ler-lhe os pensamentos. Vai levantar-se e pegar no maço de cigarros mais próximo. Quando nos conhecemos ele deixou bem claro uma coisa. "Pede-me tudo, só não me peças para deixar de fumar."

7 comentários:

  1. apesar de não gostar de tabaco, está brutal :p

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  2. Extraordinário texto. Estou sem palavras perante isto.

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  3. sabes, é isso mas ao mesmo não tempo não é bem isso. em parte do que disseste é, e outra não. Com os meus colegas antigos ainda falo muito e já combinámos coisas para estas férias. Por acaso também não prometemos nada, mas tenho a sorte de eles serem muito meus amigos e por causa desta situação que estou a passar agora é que vejo que eles sim, são meus amigos verdadeiros. É mais mesmo com a nova turma que tenho, alguns eu já conhecia, aliás até tenho algumas pessoas que eram da minha turma, das quais, ando sempre com duas delas. Tipo, primeiro entrei na turma e gostei muito, eram todos super simpáticos mas nunca tinhamos nada para falar. E depois irrita-me, porque tenho bastante pessoal da minha turma que eram da mesma escola e falam mal uns dos outros, e depois são todos super simpaticos uns para os outros quando estão juntos. Depois (até porque como digo no tumblr) tenho uma colega, que sempre fomos bué amigas e no verão diziamos aquelas coisas do "ih pela primeira vez vamos ter na mesma turma, que fixe" e depois mal fala e caga-se para as "pessoas" (o que já fez no passado) e depois nas aulas poem-se todos num grupo e deixam de fora. é horrivel, até porque depois poem-se a falar lá daquelas coisas deles que uma pessoa não percebe nada porque não foi incluida e ninguem lhe explica nem quer. é muito mau, até porque nunca me tinha acontecido. É dificil de explicar-te mesmo tudo, alias nem dá. Bem, obrigada pela forçazinha :)
    E o texto está lindo, sem duvida que escreves muito muito bem :3

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  4. sabes que mais? tu tens razão, pelo menos ainda tenho os meus amigos. Mas magoa, e é dificil porque tenho de passar basicamente os "dias" com eles, e não é uma boa sensação ficar de parte. mas enfim, é a vida. tambem não fiz nada de mal, acho que assim é que se vê quem realmente quer saber de nós e quem só nos quer usar.
    E não tens de quê. Espero tambem que isso com os teus amigos passe :)

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  5. (exactamente, reparei que ainda não havia portugueses, mas já ando a trabalhar nisso!)

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  6. adorei completamente, adorei e adorei mesmo.

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  7. de nada e obrigada. :) esse reclame é tão verdadeiro, adoro também!

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