Há um ano atrás estava eu a caminho do Parque da Bela Vista. A multidão esperava com agitação e alvoroço o próximo metro, o caos estava instalado. Eram cotoveladas vindas de todo o lado, tropeções nas escadas com tanta correria. Quase que sufocava naquele comboio apinhado de gente. Todos queriam ser os primeiros, ninguém pretendia ficar para trás. Quanto mais cedo se chegasse ao recinto melhor (ainda me lembro da primeira frase que disse quando lá entrei "Ah, vem muita gente, mas isto também é um espaço grande". Ora nem mais, era um espaço grande, sim senhora, mas que aquilo encheu e bem, disso não há dúvidas. Cheio parecia minúsculo).
Sim, há um ano atrás estava eu a caminho do Rock in Rio, ansiosa para ver a minha fave singer, Amy Winehouse. Era uma incerteza, saber se ela iria ou não actuar. Mas o desejo de a ver, ali, à minha frente, falava mais alto que todas as dúvidas em relação ao espectáculo daquela noite. E pensar que, semanas antes do grande festival de música, eu ainda não tinha bilhete e estava num alvoroço tremendo para conseguir um. E sim, de facto consegui e nem paguei por ele (um grande obrigado Miguel).
A noite foi óptima, o espectáculo da Ivete foi sem dúvida alguma o melhor (mas que mulher aquela!), do Lenny esperava mais, mesmo assim não deixou de ser bom (o único contra foi mesmo o som estar altíssimo), mas ignorar aquele ambiente, a onda de pessoas, a energia que se sentia no ar...
É verdade, já foi há um ano que eu pude assistir a uma actuação da única e incomparável Amy Winehouse. Assim que ela entrou não conseguia acreditar, ela estava ali à minha frente. Não me importei com o espectáculo degradante, sinceramente não esperava outra coisa. Sabia que ia ser assim: a primeira actuação de Amy Winehouse em Portugal (e também a primeira depois de sair da clínica de reabilitação) tinha de ser escandalosa. Eu gostei, afinal era a Amy a ser a Amy. Mas da próxima gostava de ver a Amy a ser Amy, a cantora.

E vocês, onde estavam há um ano atrás?
Hoje nem vou tentar escrever mais nada, sei que não é o meu dia. Escrevi umas quantas palavras soltas no Word, todas elas sem sentido. Apaguei. E aqui estou eu, na secretária do costume, há espera que a inspiração chegue até mim. Mas nada, ela hoje não quer encontrar-se comigo. Fecho a página. “Deseja guardar as alterações ao documento?” Guardar isto? Para quê? Uma folha em branco? Sim, uma folha em branco. Escrevam vocês o que quiserem nela, porque eu hoje não estou com disposição para isso.
Depois da noite de ontem, prometi a mim mesma que nunca mais me apanhavam em jantares como aquele. Primeiro, o ambiente em Santos – péssimo. Pessoas que às onze da noite já se vomitavam por tudo o quanto era sítio (estou a exagerar, mas muitas das pessoas que estavam nas ruas já mal se aguentavam). Depois o facto de, tirando o aniversariante e mais umas cinco pessoas, não conhecer ninguém (quer dizer, conhecer até conhecia – de vista – mas não falei com ninguém a não ser com as pessoas que me acompanharam. Ou seja, muitos momentos de silêncio, nada para dizer, desconforto, etc., etc.). Por último, o restaurante – medo. Aquilo não era restaurante nem nada lá perto, aquilo era mais uma tasca para se ver o futebol. E depois a comida? No comments. Só as batatas e o arroz é que se safaram (ainda nem acredito que paguei para comer aqueles bifes – que nem eram bifes, mas sim entrecosto – banhados em molho de natas – melhor dizendo, bechamel – e cogumelos enlatados com um sabor horrible). Nunca, nunca mais. E a promessa está feita.
Na minha opinião, nós vivemos para trabalhar: quando somos novos aprendemos como vamos aprender a trabalhar, depois aprendemos a trabalhar e, por fim, trabalhamos. Pronto, isto é uma vida.

Marta

Um mês de blogue

Que venha mais um, dois até. Que venham seis, doze, vinte e quatro. Venha o que vier, este blogue vai ficar na minha memória - afinal de contas é o meu primeiro blogue, e os primeiros são sempre especiais.
Às vezes consigo ser estúpida ao ponto de acreditar que simples acontecimentos foram muito mais que isso, muito mais que simples. Chego mesmo a acreditar que estes foram especiais, únicos, inesquecíveis e todas essas coisas bonitas que andam por aqui e que nos levam a crer que algo de bom se aproxima. É nessas alturas em que crio ilusões, em que penso que a partir daqui já nada pode correr mal, porque até agora sempre tudo correu do melhor. É nessas alturas em que começo a levantar os pés da terra e voo. As ilusões levam-me para sítios desconhecidos, para um mundo imaginário totalmente diferente do real. Não penso em mais nada senão nesses momentos, perguntando se haverá algum que se igualará aquele que eu vivi há bem pouco tempo atrás. Mas como nada dura para sempre… Sem eu dar conta as asas tornaram-se cada vez mais fracas e já não conseguia voar. Senti um leve abanão no ombro, chamaram por mim. Abri os olhos e olhei em redor. O óbvio estava mesmo à frente do meu nariz, eu é que teimava que aquilo não podia ser verdade. Então desci à terra, voltei a assentar os pés no chão e tudo começou a fazer sentido. Afinal aquele voo a um mundo imaginário não passou de uma simples ilusão. E estúpida fui eu em ter acreditado que era muito mais do que isso, estúpida fui eu em ter acreditado em ti.

Ela falou mais alto

Hoje deixei a preguiça tomar conta de mim. A ideia de ficar na cama era muito mais tentadora do que sair para a rua e apanhar aquela chuvada toda logo de manhã. Não tinha vontade de me vestir à prova de água, não iria ter paciência para os jeitos que o cabelo iria tomar assim que pusesse o pé fora de casa. Por isso o meu primeiro pensamento assim que me levantei foi “O meu lugar hoje é na cama”. E foi mesmo. Às vezes sabe mesmo muito bem ficar na caminha enquanto todos os outros estão já fora de casa, a aguentar com o temporal lá de fora. É só depois ter tempo de voltar a puxar o lençol até à cabeça, ajeitar a almofada e voltar a adormecer. Que bom.
Não há espírito de Sexta-feira, não sei onde é que ele anda. Hoje tudo correu com normalidade, não houve festa de boas-vindas ao fim de semana, não houve um suspiro de alívio por o sábado e o domingo estarem a chegar. Curiosamente, passei a gostar mais das sextas-feiras, passei a vê-las de outra forma, não como um momento de descanso pelo trabalho de toda a semana, mas sim como um dia em que parece acontecer sempre algo de novo, sempre alguma coisa a surpreender-me. Hoje não foi excepção.
Ontem foi muita rambóia. Hoje só me apetece enfiar-me debaixo de uns cobertores e dormir até domingo de manhã.